Pular para o conteúdo

A Teologia da Última Geração

Talvez você nunca tenha ouvido essa expressão, mas é certo que já viu esse pensamento por ai. Infelizmente ele é muito corriqueiro no meio Adventista. A cultura popular (e não teológica) tem trazido o pensamento para muita gente de que talvez seja possível vencer o pecado aqui nesta Terra. Esse é o sentimento que fundamenta a tese de que a última geração antes da volta de Cristo não irá mais pecar a partir de um determinado ponto. Mas a Igreja Adventista do Sétimo Dia, declara-se contrária a está teoria e tem se manifestado oficialmente contra esse tipo de crença. No entanto, ela continua crescendo entre os leigos, principalmente aqueles insatisfeitos com a religiosidade rasa de nossos dias. Infelizmente, é possível ouvir esse tipo de pensamento em púlpitos e ambientes de ensino da própria igreja. Veja bem, não é por mal. O desconhecimento da justificação pela fé é o que causa esse problema, assim como o desejo de não pecar mais. Esse desejo é legítimo, visto que aqueles que são tocados por Cristo passam a sentir aversão pelo pecado. Como Paulo em Romanos 7. Mas assim como Paulo em Romanos 7 deveríamos concluir que estamos, por enquanto, presos num corpo de morte, e que é por meio de Cristo somente que escapamos da condenação (Rom 8:1) e não pelos nossos próprios méritos.

Seguindo a lógica humana esse pensamento acorrenta-se nos mesmos grilhões do farisaísmo dos tempos de Jesus. E tende a tentar liderar uma pseudo-reforma que assume preocupações de ordem comportamental no intuito de alcançar o agrado de Deus. São as mesmas velhas correntes prendendo e cegando as gerações contemporâneas.

Enfim, há muito para ser dito sobre esse tema, mas aqui vim apenas trazer duas contribuições ao tema.

Para esclarecer a questão, e ajudar a compreende-la, segue abaixo dois materiais elucidativos. O primeiro é um breve artigo o Dr. Angel Manuel Rodriguez, recentemente aposentado da função de Diretor Instituto de Pesquisas Bíblicas da Conferência Geral dos Adventistas (Biblical Research Institute). Ele foi traduzido gentilmente por Rafael Fersi e consta originalmente como publicação da Revista Adventista Mundial (Adventist Review): http://www.adventistreview.org/2013-1528-p42

O segundo é um vídeo do programa da TV Novo Tempo, Na Mira Da Verdade, tratando sobre o tema e demonstrando qual é a posição oficial dos Adventistas do Sétimo Dia a respeito desse tema. Confira entre os minutos 6:05s e 14:14s.


A teologia da última geração

A teologia da última geração foi desenvolvida e popularizada na Igreja Adventista por M. L. Andreasen (The Sanctuary Service [Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn.,1937; revised 1947]). Andreasen baseou-se em conceitos de A. T. Jones e E. J. Waggoner. Esta teologia introduziu um forte elemento de legalismo em alguns setores da Igreja, afirmando que o caráter de Deus, caluniado por Satanás no conflito cósmico, seria justificado por meio de uma vida santa e perfeita obediência da última geração de crentes. Esta geração chegará a um nível no desenvolvimento de seu caráter a qual nunca houve na história cristã, reproduzindo perfeitamente em suas vidas o que Deus fez em Cristo. Quando isso acontecer, o Senhor voltará.

Esta teologia procura explicar por que o Senhor ainda não voltou e finalidade de uma natureza cristã perfeita. Ela baseia-se principalmente em uma leitura particular dos escritos Cristo e a vindicação de Deus: Na Bíblia e nos escritos de Ellen G. White a vindicação de Deus é resultado exclusivo da morte sacrifical de Cristo, Ele era o único que poderia revelar quem é Deus e portanto, justificá-lo no conflito cósmico (João 1:18). White também é muito clara: “Por Sua vida e morte, Cristo provou que a justiça de Deus não destrói a misericórdia, mas que o pecado pode ser perdoado e que a lei é justa e pode ser perfeitamente obedecida. As acusações de Satanás foram refutadas, Deus havia dado ao homem prova inequívoca de seu amor 1. O que Cristo realizou não precisa ser completado, é mais do que suficiente.

Perfeição cristã: A vontade de Deus para seu povo tem sido sempre a mesma: Vitória sobre o poder escravizador do pecado em suas vidas (Rom. 6: 11-14; 8: 5-8). Cristo sempre foi o modelo para a vida cristã. Mas a verdadeira perfeição cristã não pode ser separada do poder da eterna cruz e de nossa plena confiança em seu poder de perdão (1 João 2: 1, 2). Perfeição cristã é um constante crescimento na graça acompanhado por uma dependência constante de Deus. Veja quão precisa Ellen G. White é sobre este importante tema teológico: “Quando o pecador penitente, contrito diante de Deus, discerne a expiação de Cristo em seu nome e aceita esta expiação como sua única esperança nesta vida e na vida futura, seus pecados são perdoados. Esta é a justificação pela fé. Cada alma crente deve submeter sua vontade inteiramente à vontade de Deus, e se manter em um estado de arrependimento e contrição, exercendo fé nos méritos expiatório do Redentor e avançando de força em força, de glória em glória 2. Reproduziremos o caráter perfeito de Cristo em nossas vidas através do crescimento em Sua graça, por confiarmos diariamente e absolutamente em seu gracioso perdão.

Segurança no céu: Apesar da possibilidade de o pecado poder surgir novamente no céu, demodo prático isso nunca irá acontecer, a razão não é unicamente encontrada na experiência da última geração de crentes, mas na obra de Cristo na cruz. Ele, por meio da cruz, reconciliou todo o universo a Deus em um vínculo permanente de união (Cl 1:19, 20). Mais uma vez White é poderosamente clara: “Os anjos atribuem honra e glória a Cristo, pois mesmo eles não estariam seguros exceto ao olhar para o sacrifício do Filho de Deus. É através do poder da cruz que os anjos do céu serão preservados de apostasia. Sem a cruz não estaríamos mais seguros contra o mal do que estavam os anjos antes da queda de Satanás 3. A perfeição das criaturas não é poderosa o suficiente para assegurar a união do universo. Louve a Deus por Cristo!

REFERÊNCIAS:

1. Ellen G. White, The Desire of Ages (Mounatin View, Calif.: Pacific Press Pub. Assn., 1898), p. 762. (Italics supplied.)

2. The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Ellen G. White Comments, vol. 6, p. 1070. (Italics supplied.)

3. Ellen G. White, “What Was Secured by the Death of Christ,” Signs of the Times, Dec. 30, 1889

Marcações:

111 comentários em “A Teologia da Última Geração”

  1. A santificação da alma pela operação do Espírito Santo é a implantação da natureza de Cristo na humanidade…

    Somente aceitando a virtude e a graça de Cristo podemos observar a lei. A fé na propiciação pelo pecado habilita o homem caído a amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo…

    O que é necessário é o amor de Cristo no coração. Quando o eu está imerso em Cristo, o amor brota espontaneamente. A perfeição de caráter do cristão é alcançada quando o impulso de auxiliar e abençoar a outros brotar constantemente do íntimo — quando a luz do Céu encher o coração e for revelada no semblante.
    Parábolas de Jesus, capitulo 27.

    Estes são recortes do “testemunho da testemunha verdadeiro”, devo me apropriar pela fé e com esperança na realização dos mesmos?
    O prof° Leandro Quadros, abre suas explicações afirmando q precisamos conhecer o Grego bíblico para entender as escrituras?
    Porque ” Laodicéia ” está a ponto de ser vomitada da boca de Deus?
    O anjo de apocalipse 14 viu e apontou “os q guardam os mandamentos…”, isto não é real?
    Guardar os mandamentos para a honra e glória de Deus é ser perfeccionistas?
    Sou Adventista ha 47 anos e estou bastante confuso, não consigo ver propósito numa pregação q não busca, inclusive com o sacrifício da vida, seguir a instrução de Cristo, de ” negar-se a si mesmo e tomar a sua cruz e segui-lo”.

  2. … Escusam-se, porém, dizendo que é um hábito formado e que não podem vencê-lo. Ao reconhecer isto, estão prestando homenagem a Satanás, dizendo por suas ações, se não em palavras, que, ainda que Deus seja poderoso, Satanás tem grande poder. Por profissão eles dizem que são servos de Jesus Cristo ao passo que suas obras dizem que eles se submetem ao controle de Satanás, porque isto lhes é menos inconveniente. É isto vencer como Cristo fez? Ou é ser vencido pela tentação? A desculpa acima é instigada por pessoas que estão no ministério, que professam ser embaixadores de Cristo.
    Deserto da tentação, cap. 25.

  3. Embora não houvesse nenhuma mancha de pecado em Seu caráter,
    Ele condescendeu em ligar nossa decaída natureza humana com
    a Sua divindade. Tomando assim a natureza humana, Ele honrou a
    humanidade. Tendo assumido nossa natureza decaída, Ele demonstrou o que ela poderia tornar-se pela aceitação da ampla provisão que fizera para ela e tornando-se participante da natureza divina. — Carta 81, 1896.

    Seus atributos podem ser nossos — É nosso privilégio possuir
    os mais altos atributos de Seu Ser, se por meio das providências
    tomadas por Ele nos apropriarmos dessas bênçãos e diligentemente
    cultivarmos o bem em lugar do mal. Temos razão, consciência,
    memória, vontade, afeições — todos os atributos que um ser humano
    pode possuir. Mediante a providência tomada quando Deus e o Filho
    de Deus fizeram um concerto para libertar o homem da escravidão de
    Satanás, foram providos todos os meios para que a natureza humana
    se unisse com a Sua natureza divina. Nessa natureza é que nosso
    Senhor foi tentado. Ele poderia ter cedido às enganosas sugestões
    de Satanás, como Adão o fez, mas devemos adorar e glorificar o
    Cordeiro de Deus por não haver cedido um i ou um til em nenhum
    ponto.

    Duas naturezas irmanadas em Cristo—Sendo participantes
    da natureza divina podemos permanecer puros, e santos e incontaminados. A Divindade não Se tornou humana, e o humano não foi deificado pela fusão das duas naturezas. Cristo não possuía a mesma deslealdade pecaminosa, corrupta e decaída que nós possuímos, pois então Ele não poderia ser um sacrifício perfeito. — Manuscrito 94, 1893.

    Podemos vencer como Cristo venceu — O amor e a justiça de Deus, e também a imutabilidade de Sua lei, são manifestados pela vida do Salvador, não menos que por Sua morte. Ele assumiu a natureza humana, com suas debilidades, com suas deficiências, com suas tentações. … Foi “tentado em todas as coisas, à nossa semelhança”. Hebreus 4:15. Não exerceu em Seu próprio benefício nenhum poder que o homem não possa exercer. Enfrentou a tentação como homem, e venceu na força que Lhe foi concedida por Deus. Ele nos dá um exemplo de perfeita obediência. Tomou providências para que nos tornemos participantes da natureza divina, e nos assegura que podemos vencer como Ele venceu. Sua vida testificou que com
    a ajuda do mesmo poder divino que Cristo recebeu, é possível ao
    homem obedecer à lei de Deus.— Manuscrito 141, 1901.

    Mensagens Escolhidas, Volume 3.

  4. Fala Wanderson meu amigo!!! Quanto tempo! Que prazer em te re-encontrar! Entendo suas dúvidas e confusão, é muito natural, principalmente porque temos uma cultura na América do Sul e África que favorece o pensamento meritocrático na religiosidade. Veja, vc está certo nos questionamentos que faz, só não está entendendo ainda, como que eles são respondidos sem a doutrina da perfeição. Todos os textos de Ellen White que posto inclusive dão resposta as argumentações perfeccionistas. Mas respondendo as últimas questões primeiro, vamos lá. Corretíssimo, estamos e devemos estar prontos para sacrificar nossas vidas. A questão é fazendo o que? Guardando o mandamento? Isso é o mínimo, o básico, não é mais do que nossa obrigação. O problema do perfeccionismo é que ele parece ser estrito em obediência e adoração, mas é falso como a teologia dos fariseus. Cumpriam toda a lei e muito mais, e ainda assim não entendiam nada sobre Deus, o ignoraram quando Ele veio pessoalmente e lideraram sua crucifixão. Rejeitaram Jesus porque Ele não se encaixava nos seus padrões. O perfeccionismo é limitado demais, define fé com míseros 10 mandamentos. Jesus disse: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5:20). Se só guardarmos os mandamentos não estaremos “implantando a natureza de Cristo na humanidade”… muito pelo contrário. Quando ela fala de “assemelharmos” a Cristo não está falando das obras da Lei, mas do caráter de amor, tanto a Deus quanto ao próximo. Os perfeccionistas são cheios de guardar os mandamentos e não se importar com os outros ou mesmo tratar mal um ao outro. Vide fariseus. Ninguém está falando que os mandamentos não devem ser guardados, que devemos viver em pecado ou “excusando-se” para pecar. Não! Isso é uma falácia do perfeccionismo. Queremos deixar o pecado tanto quanto Paulo em Romanos 7. O odíamos! Queremos reformar nossas vidas. Dai a achar que teremos sucesso nessa tarefa é uma heresia bíblica que o Adventismo de 150 anos nunca apoiou. Nem Ellen White, que deixou bem claro e bem escríto que “JAMAIS poderemos igualar ao modelo” (5 de Fev de 1895). E disse mais: “Muitos tem adotado o conceito de que não podem pecar porque estão SANTIFICADOS, mas isto é uma enganosa cilada do maligno” (Fé e obras, 75). A questão não é ficar sem pecar, mas lutar durante toda vida, ao custo da própria, por não pecar. Dai a declarar que conseguiremos é decair da graça segundo Gálatas 5. Mas para nós isso parece muito lógico ou óbvio, pq nossa lógica humana é construída na meritocracia. Mas a graça vem para quebrar essa lógica. Eu não luto pela minha salvação, Cristo já fez isso por mim. Luto contra o pecado porque já fui salvo por Ele e não o contrário. Não esqueça que “há caminhos que ao homem parecem direito, mas ao fim são caminhos de morte” Prov 14:12 Nossa lógica é enganosa. Mas é impossível resolver todas as questões e inquietações em um post, ou comentário, vamos estudando e aprendendo. A intenção desse post aqui foi esclarecer o que a Igreja Adventista do Sétimo Dia defende e sempre defendeu, além das corruptelas que surgem entre nós no dia-a-dia da igreja. Fora isso, saudades de ti meu amigo, grande abraço, espero poder ve-lo qualquer dia desses! Abração!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Sair da versão mobile