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Por que não acredito mais na Teologia da Última Geração

Janela quebrada - Foto de Pawel Czerwinski na Unsplash
Foto de Pawel Czerwinski na Unsplash

Crescido na igreja adventista, eu estava exposto a um modelo de adventismo que promoveu o que foi identificado como a Teologia da Última Geração (LGT – Last Generation Theology doravante descrito pela sigla em português TUG – Teologia da Última Geração). Fomos ensinados que aqueles na igreja que não concordavam com a TUG estavam em apostasia. Foi Muito tempo depois, quando estudava no seminário, que descobri que a TUG Não existia no adventismo até os anos 1930. Foi introduzida pelo primeiro teólogo adventista durante esse período, M.L Andreasen. No entanto este conceito não é novo. Eu também aprendi que os fariseus tinham sua versão da Teologia da Última Geração. Eles acreditavam firmemente que, se Israel mantivesse um sábado perfeito, o Messias viria imediatamente. É por isso que eles queriam se livrar de Jesus, quando ele quebrou suas leis de sábado.

Aqueles que propõem a TUG gostam de agarrar-se a uma citação em especial de Ellen White. Ela escreve: “Cristo aguarda com fremente desejo a manifestação de Si mesmo em Sua igreja. Quando o caráter de Cristo se reproduzir perfeitamente em Seu povo, então virá para reclamá-los como Seus “(Parábolas de Jesus, p. 69). Quando vejo esta citação, agora sem um viés TUG, torna-se mais claro que Ellen White não esta necessariamente falando de impecabilidade, mas para deixarmos de lado nossas diferenças e sermos amáveis, assim como os discípulos no cenáculo antes do derramamento do Espírito Santo. Jesus diz que o fim virá quando o evangelho chegar a todos (Mateus 24:14). Ele também diz que todo mundo vai saber que somos seus discípulos quando amarmos uns aos outros (Jo 13:35).

“Perfeição”

O foco da Teologia da Última Geração é uma personalidade perfeita. De um ponto de vista TUG, Jesus não voltou porque ele está à espera de uma geração que não tem pecado, para que Deus possa provar que seus mandamentos podem ser guardados perfeitamente. A TUG ensina que Deus está dependendo de nós para reivindicar seu caráter. Se pudéssemos demonstrar ao universo (observando) que a lei de Deus pode ser obedecida, ninguém teria uma desculpa. Provaríamos que Satanás está errado! Deus seria razoável em suas expectativas. Agora vejo como isso é uma blasfêmia. Jesus justificou plenamente o caráter de Deus na cruz. Deus é amor. Nós não podemos tomar o lugar de Jesus em cumprir esse papel.

Em vez de festejar com os meus colegas, eu passei a maior parte da minha adolescência tentando ser perfeito. Tentei ter apenas pensamentos puros, e conquistar o meu temperamento e outras falhas de caráter. Afinal, Deus estava confiando em mim para vencer o pecado! Eu não queria atrasar sua vinda por mais tempo. Eu também sabia que a hora estava chegando, quando “o período de graça” se encerrasse nós ficaríamos sem um mediador. Eu tinha que estar impecável até então. Muito mais tarde, fiquei aliviado quando alguém mostrou-me que sempre teremos um Salvador. Neste ponto, não pode mais haver mudança de lados (o que exige um mediador, ver Apocalipse 22:11), mas os nossos pecados são cobertos pelo sangue de Cristo até o final, quando estaremos ao lado de Deus.

Embora essa teologia tenha me poupado das consequências de uma rebelião típica de um adolescente, a TUG pode ser tão (se não mais) prejudicial emocionalmente e espiritualmente. Mesmo que tenhamos sido informados de que poderíamos vencer o pecado através do poder de Cristo, o foco não estava em Jesus. Me concentrava em meu comportamento. Como eu estava agindo? Não é isso em que todo o universo esta supostamente focado? Toda vez que errava, eu sabia que estava perdido a menos que me arrependesse e começasse tudo de novo a partir do zero. Isso não foi uma experiência cristã alegre. Foi infeliz! Eu queria desesperadamente ser perfeito para que eu pudesse ser uma parte da última geração.

Agora vejo o cristianismo como um relacionamento. Porque Deus é amor, Ele nos criou para um relacionamento com ele. Esse é o nosso propósito, é por isso que nós existimos. Desde que nascemos em um planeta rebelde, o objetivo primordial de Deus é ganhar nossos corações. Ele quer que confiemos nele. No entanto, quando damos a Deus o nosso coração, nós ainda temos as fraquezas da carne. Mesmo que nossos corações estejam no lugar certo, nós ainda erramos. Quando falhamos por causa da carne, não perdemos nossa salvação, nós não viramos as costas a Deus, nós o amamos e queremos fazer o que é certo, e quando tivermos um novo corpo na ressurreição (sem quaisquer fraquezas), não iremos ser rebeldes no céu. Porque Deus ganhou nossos corações. Nós confiamos nele. Nós o amamos.

É como um casamento (a metáfora bíblica para a nossa relação com Deus). Eu não sou um marido perfeito. Cometo erros que ferem a minha esposa (não fisicamente). No entanto, porque eu amo minha esposa, eu sinto muito quando faço tolice, eu não quero machucá-la. Quando fracasso, ainda estou casado com ela, não virei as costas e fui embora, ainda estamos em um relacionamento. A única maneira de perder a sua salvação é virar deliberadamente as costas a Deus e afastar-se dele. Mas Ele nunca vai deixar você, mesmo se você rejeitá-lo completamente, ele vai tentar conquistar o seu coração novamente.

Estou convencido de que nunca serei perfeito, não temos de ser, quando estamos em um relacionamento com Deus, os nossos pecados são cobertos pelo sangue de Cristo até o fim. Se Deus ganhar nossos corações, nós entraremos em um novo corpo incorruptível quando Jesus vier. Ou seja, quando nossos novos corações irão finalmente ser compatíveis aos nossos corpos, porque nossos corpos também serão novos.

Estou tentando arranjar desculpas para o pecado? De modo nenhum! Na verdade, quanto mais eu tentava vencer o pecado, mais eu falhava e me desencorajava. Agora eu acho que quando eu me concentro em meu relacionamento com Jesus, os pecados que pareciam tão atraentes antes, começam a perder o seu poder na sua presença. É milagroso.

Sam Millen – Pastoreia a Luray Seventh-day Adventist Church na Virginia, na Associação Potomac. Ele cresceu na Austrália, se mudou para os EUA para se preparar para o Ministério na Universidade Andrews. Ele e sua esposa Angie são país de gêmeos de 6 anos e 2 anos. 

TRADUÇÃO: Rafael Fersi

Artigo original do Site: https://spectrummagazine.org/article/news/2014/04/17/why-i-no-longer-believe-last-generation-theology

Marcações:

117 comentários em “Por que não acredito mais na Teologia da Última Geração”

  1. Como é bom ler algo assim, cheguei a ficar descrente com a igreja pois o número de perfeccionistas está aumentando significamente na igreja.. e se vc não compartilha das mesmas idéias já é visto como um perdido… Sempre pensei que essa teoria é um pouco satânica até, pois tira de Jesus o dom da salvação através da graça e coloca em nós seres imperfeitos… Seu artigo é sensato, sóbrio e traz mta paz de espírito! Mro legal pastor!

  2. Flávia Fabyanni Carvalho

    Muito bom. Muitos saem do caminho que estão seguindo por não compreenderem ou compreender de forma errada e depois se decepcionarem com o que dizem nas igrejas sobre determinados assuntos.

  3. Fala Wanderson meu amigo!!! Quanto tempo! Que prazer em te re-encontrar! Entendo suas dúvidas e confusão, é muito natural, principalmente porque temos uma cultura na América do Sul e África que favorece o pensamento meritocrático na religiosidade. Veja, vc está certo nos questionamentos que faz, só não está entendendo ainda, como que eles são respondidos sem a doutrina da perfeição. Todos os textos de Ellen White que posto inclusive dão resposta as argumentações perfeccionistas. Mas respondendo as últimas questões primeiro, vamos lá. Corretíssimo, estamos e devemos estar prontos para sacrificar nossas vidas. A questão é fazendo o que? Guardando o mandamento? Isso é o mínimo, o básico, não é mais do que nossa obrigação. O problema do perfeccionismo é que ele parece ser estrito em obediência e adoração, mas é falso como a teologia dos fariseus. Cumpriam toda a lei e muito mais, e ainda assim não entendiam nada sobre Deus, o ignoraram quando Ele veio pessoalmente e lideraram sua crucifixão. Rejeitaram Jesus porque Ele não se encaixava nos seus padrões. O perfeccionismo é limitado demais, define fé com míseros 10 mandamentos. Jesus disse: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5:20). Se só guardarmos os mandamentos não estaremos “implantando a natureza de Cristo na humanidade”… muito pelo contrário. Quando ela fala de “assemelharmos” a Cristo não está falando das obras da Lei, mas do caráter de amor, tanto a Deus quanto ao próximo. Os perfeccionistas são cheios de guardar os mandamentos e não se importar com os outros ou mesmo tratar mal um ao outro. Vide fariseus. Ninguém está falando que os mandamentos não devem ser guardados, que devemos viver em pecado ou “excusando-se” para pecar. Não! Isso é uma falácia do perfeccionismo. Queremos deixar o pecado tanto quanto Paulo em Romanos 7. O odíamos! Queremos reformar nossas vidas. Dai a achar que teremos sucesso nessa tarefa é uma heresia bíblica que o Adventismo de 150 anos nunca apoiou. Nem Ellen White, que deixou bem claro e bem escríto que “JAMAIS poderemos igualar ao modelo” (5 de Fev de 1895). E disse mais: “Muitos tem adotado o conceito de que não podem pecar porque estão SANTIFICADOS, mas isto é uma enganosa cilada do maligno” (Fé e obras, 75). A questão não é ficar sem pecar, mas lutar durante toda vida, ao custo da própria, por não pecar. Dai a declarar que conseguiremos é decair da graça segundo Gálatas 5. Mas para nós isso parece muito lógico ou óbvio, pq nossa lógica humana é construída na meritocracia. Mas a graça vem para quebrar essa lógica. Eu não luto pela minha salvação, Cristo já fez isso por mim. Luto contra o pecado porque já fui salvo por Ele e não o contrário. Não esqueça que “há caminhos que ao homem parecem direito, mas ao fim são caminhos de morte” Prov 14:12 Nossa lógica é enganosa. Mas é impossível resolver todas as questões e inquietações em um post, ou comentário, vamos estudando e aprendendo. A intenção desse post aqui foi esclarecer o que a Igreja Adventista do Sétimo Dia defende e sempre defendeu, além das corruptelas que surgem entre nós no dia-a-dia da igreja. Fora isso, saudades de ti meu amigo, grande abraço, espero poder ve-lo qualquer dia desses! Abração!

  4. acontece exatamente isso quando tentamos vencer o pecado a todo custo pra sermos perfeitos, para alcançar um comportamento exemplar….falhamos e nos desencorajamos! Ao nos aproximar de Cristo, não fica tão difícil vencer o pecado, aos poucos deixamos de lado e vencemos mais fácil.

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