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Uni Duni Tê

escher

Pintura do artista e matemático holândes M.C. Escher

 

Entre dois mundos. Os cristãos estão flertando com o que é material e o infinito “intangível” da fé. Como quem mantém duas máscaras, duas roupas para ocasiões diferentes, duas disqueteiras (ou dois pendrives) com músicas diferentes. Estamos sempre entre o mundo da fé, cheio de suas músicas particulares e seus jargões de circulo fechado e o mundo material onde estão todos os outros habitantes da terra com seus jargões próprios, zeigeist e seleção própria de musica.

A religiosidade falida da maioria das igrejas cristãs tem saturado as almas de todos com uma realidade de fé insossa. Cristãos que falam de amor, mas não se amam. Falam de perdão, mas não perdoam. Cantam, mas não louvam. Lêem, mas não entendem. Pregam, mas não transformam. Falam da verdade, mas não a vivem ou a tornam real. Essa frustração faz com que a única coisa que realmente é real aos nossos olhos, o mundo material, se torne mais brilhante e vívido.

Talvez seja por isso que mantemos duas vidas. A espiritual e a material. Numa vamos para a igreja e dançamos conforme a musical e o ritual estabelecido. Podemos inclusive transcender os rituais e viver uma ligação verdadeira com Deus, mas ao fim do processo de “encontro com Deus” saímos em busca daquilo que realmente nos garante experiências reais. É o fenômeno que torna os Sábados a noite intocáveis. “Igrejas, não marquem eventos no Sábado a noite, exceto que seja algo muito extraordinário, pois esse é o nosso momento mais material”, pensamos.

Essa dualidade de vida faz com que os jovens de hoje por mais cristãos que sejam flertem tanto com a cultura pop. Não podemos negar a verdade Bíblica e de nossa fé. Mas também não podemos negar o poder da cultura pop sobre nossas vidas. Há muitas coisas boas para serem feitas na igreja, mas as melhores coisas para se fazer estão presentes em cinemas, séries de tv, músicas contemporâneas, videogames, bares, pubs, boites, festas e etc…

É como se a vida de verdade fosse essa, mas de vez em quando pomos nossas esperanças nas coisas da fé. Só para descobrirmos que não tem o sabor das coisas reais.

O efeito disso é o que vemos hoje. Não nos comprometemos com as coisas estritamente espirituais. É adorável nos envolvermos com as coisas de Deus SE, e somente SE, elas estiverem relacionadas as coisas “maravilhosas” que este mundo tem a oferecer. Talvez daí venha o fato de que somos muito mais ávidos e cheios de conhecimentos sobre os contextos hollywoodianos do que os contextos proféticos da Bíblia ou além dela. Por isso cultos não atraem tanto quanto shows. Então que falem de Deus, mas que se faça referência aquilo que realmente amamos: nosso zeigeist, nossa cultura. Eu sei bem disso porque tenho usado disso há quatro anos para levar a teologia e a Bíblia mais profundamente aos ouvidos contemporâneos. É melhor ser ouvido quando fala-se de Deus do que ser ignorado portando essa verdade. Uso isso, porque estou nesse mundo. Eu também gosto muito das coisas deste meu tempo. Luto para não me conformar com elas (Rom 12:1,2) e estar aqui sem me reconhecer como daqui. Para não deixa-las se interpor á minha fé, mas usando a favor dela. Tento.

Outro efeito desta dualidade e o propósito deste texto é a compreensão da queda na produção artística e cultural cristã. Sim. Paramos de alimentar nossa própria cultura e criar para o Reino e para fora dele aquilo que só nós cremos e devemos pregar. Paramos tanto que quase desaprendemos. Achamos que a verdadeira arte e os verdadeiros gênios estão lá fora do Reino. Olhamos intrigados para a arte de Michelangelo e Da Vinci que faz referência a fé sem entender por que esses gênios se envolveram com tais coisas. Não esperamos isso de artistas gênios. Achamos que não dá para comparar o que criamos com o que se cria em nossa cultura mundana. Damos desculpas como não termos recursos e etc… Mas na verdade o que falta é visão, disposição de nossas energias e capacidades para alimentarmos nossa cultura e a cultura da verdade. Não estou falando de produção interna. Me refiro a produção de nossa cosmovisão de tal maneira que alimentará os que crêem e divulgará aos que ainda não crêem.

As pessoas sonham com casas, contas de bancos recheadas, fazendas, carros, trabalhos perfeitos, títulos acadêmicos, barcos, realizações pessoais e etc… E nós? Sonhamos com as mesmas coisas e aí está o absurdo. Não porque haja mal em prosperidade terrena, mas nossos sonhos são muito maiores do que esses a partir do momento que descobrimos que há muito mais do que isso. Sabemos que estas coisas são passageiras. Que estamos destinados a eternidade pela ação de um Deus extremamente amoroso. Que há muita injustiça para ser reparada. Que o mundo nem vai, nem pode, nem deve, continuar como está. Com isso em mente nossos sonhos extrapolam esse mundo contemporâneo. Podemos até querer e falar dessas coisas daqui, mas por favor, isso é o couvert! A mera alegria temporária de uma vida muita maior e melhor para qual estamos caminhando.

Nós temos motivos profundos e lindos para celebrar! Mas continuamos pulando sem razão ao som alto e ritmado ingerindo qualquer substância que nos faça sorrir. Nossos sonhos são absurdos de fantásticos, mas estamos conformados com o pouco que aqui há como se muito fosse.  Não estamos cantando o céu, pintando a eternidade, escrevendo sobre a verdade em nosso mundo atual. Quantos de nós temos conversado em rodas sobre como esperamos que o céu será? A mansão no monte que nós teremos, como ela será? Você já parou para imaginar de verdade?

Continuamos pintando a volta de Jesus como um filme fantástico de Hollywood cheio de efeitos especiais e sob um filtro de 24 frames por segundo, mas  achando que real de verdade é a Maseratti do James Bond ou o Camaro do Transformers. Sem perceber, paramos de criar sobre o Reino porque o Reino deixou de ser o nosso sonho. Ou nossa prioridade. Por tudo isso, a começar pela frustração de uma fé irrelevante e chegando a uma dualidade funcional de prioridades chegamos ao ponto de estagnação da cultura e produção artística cristã.

Queremos cantar, dançar, escrever, pintar, desenhar, estudar, confeccionar, construir, inovar, produzir para as coisas daqui. Desistimos das coisas de lá (do Reino e do Céu).

É hora de mudarmos essa realidade. Como? Primeiro, “Não vos conformeis com este século (mundo), mas transformai-vos pela renovação das vossas mentes[…]” (Rom 12:2). Segundo, depois de transformar sua cosmovisão e por as coisas na perspectiva do Reino: “Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças[…]” (Ecl 9:10). Terceiro, aproprie-se dos dons que Deus lhe deu para revelar o Reino na sociedade em que estamos!

Temos muito potencial em nossa geração. Muitos recursos como nunca antes. A hora de mudarmos esse quadro chegou.

É possível encontrar a relevância nesse mundo numa produção verdadeiramente do Reino. Cristãos, despertai! #Fator40

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