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A Base Histórica do Estilo de Vida Adventista

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Em nossos dias, muito se fala sobre estilo de vida. E muita coisa do que é dita sobre o assunto, inclusive, em meio de muito achismo. Com o intuito de esclarecer, educar e expandir o conhecimento sobre esse mérito postamos abaixo uma matéria publicada na Review And Herald (Revista Adventista nos EUA) em Outubro de 1989 com um estudo sobre as bases históricas dos padrões de vida Adventista.

Texto gentilmente traduzido e adaptado por: Ruth Alencar, Marcos Ribeiro, Robson Teles e Matheus Cardoso (Grupo de Tradutores Voluntários).

O texto é muito importante para o nosso contexto, recomendo a leitura, estudo e aplicação de suas conclusões. No entanto, se você achar melhor por questões de tempo e praticidade, segue aqui um serviço exclusivo do site Confissões Pastorais; a leitura do texto em formato de audio.

A Base Historica do Estilo de Vida Adventista (Clique com o botão direito do mouse e “Salve como” para baixar).

Por Gerald Wheeler

 

Entender como nossos padrões se originaram e mudaram ao longo dos anos pode nos ajudar a lidar com a necessidade de mudanças hoje.

 

Durante a temporada de férias no leste da Pensilvânia (EUA), encontramos as estradas entupidas de ônibus de turismo e carros de outros estados. Pessoas de todas as partes dos Estados Unidos vão lá para ver as colônias dos agricultores amish.

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Para quem observa de fora, todos os amish, com suas roupas fora de moda e carroças puxadas por cavalos, parecem iguais. Mas o observador mais atento logo descobre que a comunidade amish tem muitos subgrupos, diferenciados por características como estilo de roupa, design e cor da carroça. Várias facções discordam em questões como a largura da borda do chapéu de um homem e se ele deve usar um ou dois suspensórios.

Essas discussões parecem triviais e sem sentido para quem não é amish. Mas são importantes para eles, porque esses assuntos definem a natureza e os limites de sua comunidade de fé. Definem quem é um companheiro crente e quem não é. Para que um grupo exista, é necessário ter uma identidade consciente, uma autoconsciência de quem ele afirma ser. Essa identidade é definida não só pelo que a pessoa acredita e faz, mas também pelo que rejeita.

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A maioria dos observadores casuais imagina que os amish pensam que a tecnologia moderna e a cultura são inerentemente más. Porém, os líderes amish mais perspicazes reconhecem e admitem que a sua rejeição da cultura contemporânea seja uma forma de se manter um grupo distinto, autoidentificável e coeso.

Os homens amish usam barba porque, quando surgiu o costume de se barbear, era considerado símbolo de uma cultura militarista. Eles usam ganchos e furos na roupa porque querem ser distinguidos dos menonitas, que utilizam botões. E recusam a tecnologia moderna porque veem uma necessidade de preservar barreiras que os impeçam de ser absorvidos pela sociedade moderna.

Alguns dos princípios que observamos entre os amish podem ajudar os adventistas em suas discussões atuais sobre estilo de vida e identidade.

 

Contexto histórico do estilo de vida adventista 

 

Ellen White e outros líderes trouxeram para dentro do movimento adventista uma abordagem ao estilo de vida baseado nos escritos de John Wesley e de outros grupos religiosos conservadores [1]. Wesley e os primeiros metodistas opuseram-se ao estilo de ostentação das classes ricas. Homens e mulheres das classes mais altas deviam se vestir de determinada maneira que se encaixasse em sua posição social.

A maioria dos metodistas vinha das classes mais baixas e via as roupas e joias caras como uma indicação de vaidade, autoindulgência e mundanismo. Wesley advertia seus seguidores a se vestirem com trajes mais simples e a não “imitarem os homens ricos”. Visto que o estilo de cabelo era parte da moda das classes mais abastadas, os homens metodistas penteavam o cabelo para baixo, sobre as suas testas, no que veio a ser conhecido como a “moda metodista”.

Simplicidade e modéstia proporcionaram aos metodistas uma identidade clara e definida, entre eles mesmos e na sociedade em geral. Além disso, o metodismo procurou encontrar apoio bíblico para a sua autoidentidade. Eles citavam passagens como 1 Pedro 3:3, 1 Timóteo 2:8-9, Tiago 4:4 e 1 João 2:15.

Os fundadores da Igreja Adventista do Sétimo Dia ecoaram essa visão, reimprimindo os sermões de Wesley sobre o tema no periódico Review and Herald [2]. Os adventistas poderiam se identificar com a compreensão metodista, já que compartilhavam muitas das mesmas preocupações e também vinham em grande parte das classes socioeconômicas mais baixas.

Como os metodistas, os primeiros adventistas procuravam descobrir na Bíblia a vontade de Deus para eles e para seu estilo de vida. Mas deram seu toque pessoal para as descobertas. Eles consideravam a vida presente como uma série contínua e interminável de testes pelos quais que cada cristão deve passar. Por exemplo, eles viam a parábola das dez virgens como um exemplo de um desses testes, permitindo que as cinco virgens prudentes avançassem para o próximo teste. Era uma abordagem orientada ao indivíduo e considerava a vida como um constante processo de aperfeiçoamento. Apenas alguns poucos chegariam ao Céu.

Em 30 de abril de 1866, a igreja de Battle Creek (Michigan) adotou uma série de resoluções sobre vestuário. Poucos dias depois, a Comissão da Associação Geral expressou a opinião de que a obra de Adoniram Judson, missionário para a Birmânia, intitulado A Letter to the Women of America on Dress (Uma carta para as mulheres americanas, sobre o vestuário), era uma “admirável exposição bíblica sobre o assunto”. Essa comissão  pediu à editora adventista, a Review and Herald, “para anexar estas [da igreja de Battle Creek] resoluções ao estudo de Judson sobre vestuário” [3].

Os adventistas do século 21 podem achar difícil concluir que os textos citados por Judson e os irmãos de Battle Creek abordam vários dos itens e práticas a que os primeiros adventistas se opunham. Os leitores modernos interpretariam as passagens bíblicas de forma diferente. Todavia, para esses pioneiros, as Escrituras realmente falavam de maneira clara sobre o erro quanto a usar joias feitas de borracha e de cabelo humano, certos penteados e redes de cabelo, bem como usar bigode ou cavanhaque.

 

Evitando a percepção de classe

 

Em um livro fascinante intitulado The Light of the Home: An Intimate View of the Lives of Women in Victorian America (A luz do lar: uma visão íntima da vida das mulheres na América vitoriana), Harvey Green e E. Mary Perry comparam o comportamento e os padrões das classes mais baixas, média e alta em uma série de tendências que estavam remodelando a sociedade norte-americana do século 19. Muitas dessas tendências envolvem a urgência com que os norte-americanos queriam ser reconhecidos como parte da classe média emergente. E, nessa luta por reconhecimento, podemos ver a origem de certos padrões adventistas.

Os adventistas norte-americanos do século 19 eram tentados a adotar cada nova moda e fazer tudo o que podiam para se identificar com a classe média. Nos pontos em que Green e Perry discutem temas específicos sobre os quais Ellen White escreveu, é significativo que a atitude da Sra. White normalmente se posicionava ora na classe baixa ora na classe alta, ou quase sempre se posicionava contra a atitude de classe média. Por quê? Talvez porque ela temesse que os adventistas, por entusiasmo de subir a bordo do movimento da classe média, perdessem sua identidade e eficácia especial.

Isso explica por que Ellen White foi contra as bicicletas quando eram um símbolo caro de identificação com a classe média, mas, quando se tornou um meio de transporte pessoal, deixou de advertir contra elas. Aparentemente Ellen White estava preocupada em proteger a identidade adventista, evitando a vaidade e o desperdício de dinheiro. Mas, como o papel da bicicleta na sociedade mudou, a reação dela também mudou.

Da mesma forma, a Sra. White foi contra o espartilho por razões de saúde e porque ele era visto como símbolo de riqueza e aristocracia. Qualquer mulher, ao usar esse vestuário, limitava-se fisicamente. Além disso, tinha um marido com dinheiro suficiente para contratar funcionários para fazer o trabalho doméstico que ela não podia fazer [4].

Em determinada época, Ellen White propôs um estilo de vestuário das mulheres como mais saudável e como forma de protesto contra o poder do orgulho de classe e da vaidade pessoal. Mas sua reforma do vestuário não é relevante hoje, porque já não simboliza um protesto contra o estilo insalubre e socialmente arrogante. Posteriormente, Ellen White declarou que o vestuário não devia ser um teste de comunhão, ou seja, uma exigência para ser membro da igreja [5]. Ao tomar tal posição, ela contrariou o conceito adventista inicial de que tudo na vida era um teste.

Os adventistas, como outros grupos conservadores, se opunham a tudo o que tivesse origem pagã. Por exemplo, evitavam chamar os dias da semana pelo nome porque os nomes foram derivados de deuses pagãos. [Isso se aplica aos nomes em inglês. Por exemplo: segunda-feira é Monday, “dia da (deusa) Lua”; quinta-feira é Thurday, “dia de Thor”, um  deus nórdico.] Por muitos anos o periódico oficial da igreja, Review and Her­ald, se referiu aos dias da semana como “primeiro dia”, “segundo dia” etc. Atualmente, a origem pagã dos nomes dos dias da semana é apenas uma curiosidade cultural. Poucos veriam isso como uma ameaça à identidade cristã ou adventista.

Não usar aliança de casamento também já foi um símbolo de identificação com a Igreja Adventista nos Estados Unidos. Essa era uma etapa preparatória para o batismo. No entanto, quer queiramos ou não, a revolução sexual dos anos 70 e a tolerância da sociedade à promiscuidade removeram essa proibição simbólica. Com isso, foi reafirmado o simbolismo muito mais antigo da aliança como indicação de compromisso conjugal.

O fato de que a proibição da aliança nunca foi uma norma adventista mundial também é significativo para a nossa compreensão do estilo de vida adventista. A australiana May Lacey, quando se casou com William, filho de Ellen White, usou aliança em seu casamento por causa do simbolismo que tinha em seu país. E Ellen apoiou a decisão da nora. Mas, quando foi viver nos Estados Unidos, May White parou de usar aliança, pois tinha se mudado de uma cultura que a usava como símbolo de compromisso, para outra em que muitos não a usavam e nem identificavam isso com a fé adventista [6].

Na América vitoriana, a “simples e pesada” aliança de casamento era o símbolo de reconhecimento do casamento na classe média. Os homens geralmente não usavam aliança [7]. É provável que parte do motivo para a posição de Ellen White era que os adventistas evitassem as armadilhas de status da classe média.

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Em 1905, a Sra. White posou para um retrato de família, que incluiu sua neta Ella White Robinson. Ella estava ao lado do marido e usava uma corrente de metal no pescoço, bem como uma corrente de relógio pesada no colete [8]. Oito anos mais tarde, a Sra. White novamente posou com sua neta. Desta vez, Ella estava usando várias vertentes de um colar de concha que, segundo Alta Robinson (cunhada de Ella e membro da equipe do Patrimônio Literário de Ellen G. White), a própria Ellen White tinha trazido para sua neta como presente das ilhas do Havaí. Contudo, ainda mais interessante é que, segundo uma testemunha ocular contemporânea da Sra. White, ao  falar na assembleia de 1888, em Mineápolis  ela usava “um vestido preto em linha reta, sem nada para quebrar a sobriedade, salvo um colar branco minúsculo em seu pescoço e uma pesada corrente metálica que pendia suspenso perto de sua cintura” [9]. Essa corrente sem dúvida era um acessório, um elemento puramente decorativo de seu traje. Em outras palavras, um item de adorno.

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Uma análise das fotografias de Ellen White revela que ela gostava de usar pinos e broches. Veja, por exemplo, o artigo “Heirloom: Leaves From Ellen White’s Family Album” (Heirloom: páginas do álbum da família de Ellen White), na edição de primavera de 1982 da revista Adventist Heritage. Ela usava pinos sobre seu vestido ou para fixar juntos o seu colar. Quando visitou o Havaí, uma mulher lhe deu material de seda, um lenço de seda e um pino de pedras brancas que custavam 10 dólares, um bom pagamento de uma semana na época. A primeira reação de Ellen White foi não aceitar os presentes, mas, vendo que isso iria decepcionar a mulher, ela tomou e usou depois. Repetindo a perspectiva de John Wesley, ela escreveu que era “muito simples e útil” e “nem um pouco pomposo” [10]. Para Ellen White, simplicidade e modéstia não excluía adorno, se tal adorno não apelasse para a vaidade pessoal ou percepção de classe.

Outro padrão que tem sido fortemente mantido pelos adventistas, pelo menos até recentemente, tem a ver com o teatro. Ellen White tem algumas declarações pesadas sobre teatros, e ela parece ser contrária ao drama sério. Mas é preciso considerar o contexto histórico de sua oposição. O drama sério, como nós conhecemos hoje, simplesmente não existia nos Estados Unidos do século 19. O teatro consistia de peças melodramáticas intercaladas com “um primeiro ato, precedido e seguido de partes com animações, nas quais geralmente mulheres usavam calções curtos e mostravam licenciosidade e palhaçadas”. Sempre que possível, os produtores das peças traziam muitas mulheres que vestiam calças apertadas ou outro tipo de roupa mínima. Um ator britânico disse que, no teatro norte-americano, “a modéstia não parece ser uma qualidade necessária em uma atriz”.

Teatros eram geralmente agrupados entre salões de bilhar, bares “e outros refúgios para os libertinos e desocupados”. O público muitas vezes consistia de arruaceiros de rua e prostitutas e outros clientes em potencial. Assim, o teatro tinha uma merecida reputação ruim. Não foi até o fim do século 19 que peças começaram a ser apresentadas sem as atrações musicais e outros atos [11].

Outra forma importante do teatro era o menestrel que mostrava atores brancos com rostos pintados de preto apresentando estereótipos raciais cruéis. Eles eram tão populares que um drama sério não poderia competir com eles [12].

Levando esses fatores em consideração, parece-me que seria errado descartar categoricamente a leitura ou a encenação do drama sério sem considerar o contexto histórico e entender por que os primeiros adventistas eram contra o teatro.

 

Como definir nosso estilo de vida

 

O que vemos nesses exemplos é que a compreensão adventista inicial do certo e do errado foi fortemente condicionada pelo aspecto cultural, bem como por fatores de tempo. Devemos sempre aprender, como Ellen White o fez, como selecionar a partir da cultura o que é permanente e útil e rejeitar o efêmero e perigoso. Considere, por exemplo, o que nos referimos como as oito leis de saúde. Elas não foram criadas por Ellen White; estão presentes numa grande variedade de publicações populares daquela época. Tais artigos salientam a necessidade de ar puro, água, exercício, descanso, e assim por diante. Ellen White convocava os adventistas a adotarem essas práticas saudáveis, mas rejeitou a motivação que muitas vezes estava por trás da publicação original deles.

Durante a última parte do século 19, a população branca de classe média sentiu-se ameaçada pelo declínio na taxa de natalidade e uma crescente onda de imigração vinda do sul e leste da Europa. Eles viram o controle político sair de suas mãos. Os autores dos artigos populares sobre saúde compreendiam as oito leis de saúde como um meio de manter as mulheres brancas da classe média em boa saúde para que pudessem ter mais filhos. Eles acreditavam que o futuro da nação literalmente dependia da saúde e da fertilidade das mulheres protestantes anglo-saxãs. Os artigos eram declaradamente racistas [13]. Ellen White era capaz de aceitar a metodologia sem adotar suas pressuposições.

Ela também compartilhou muitas preocupações com o que hoje chamamos de “movimento do Evangelho Social”, como a importância de um movimento de temperança e as vantagens da vida no campo. Mas não aceitou a maioria das conclusões filosóficas desse movimento. Ela poderia responder aos aspectos positivos de sua cultura sem adotar os elementos negativos.

O fato é que o mundo mudou muito desde que nossos primeiros padrões foram estabelecidos, e inconscientemente reconhecemos esse fato pela nossa contínua mudança de várias práticas.

Os adventistas, por exemplo, não mais se preocupam com o “erro” de usar bigodes e barbichas, mesmo que a Associação Geral já tenha tomado posição oficial contra eles [14].

Outro exemplo de um padrão que muitos adventistas entendem que tenha sido alterado por mudanças na sociedade envolve a preparação para o sábado. Ellen White recomendava que se tomasse banho na sexta-feira, mas, nos lugares em que isso não envolve trabalhoso aquecimento de água em fogão a lenha, os adventistas não veem erro algum em tomar banho na manhã de sábado [15]. A ordem específica já não parece ser relevante no mundo ocidental modernizado, embora o princípio absoluto da santidade do sábado e sua observância permaneçam eternos.

A Associação Geral e outras instituições adventistas agora possuem carros e motoristas para o transporte dos visitantes. Mas, em 1902, quando o administrador de um hospital adventista perguntou se a sua instituição deveria obter um automóvel para levar e trazer os pacientes da estação de trem, Ellen White escreveu: “Meu irmão, não faça tal compra”. Ela viu isso como o estabelecimento de um comportamento irresponsável. Contudo, três anos depois, ela andava de carro da estação de trem para um hospital e expressou seu prazer em viajar de automóvel. Em apenas três anos, a situação aparentemente havia mudado [16]. O que era um hábito extravagante rapidamente se tornou uma necessidade.

Todos esses são exemplos de mudanças do estilo de vida adventista que acompanham as circunstâncias.

Como os amish, precisamos de um estilo de vida que nos dê uma identidade, que nos una como povo. Mas ele deve ser uma cerca que proteja o rebanho de Deus, e não uma barreira que exclui da sociedade ou nos separa em facções hostis. Nosso estilo de vida deve se basear em princípios bíblicos que atendam a todos os tempos e culturas, em vez de simplesmente se opor a certas práticas norte-americanas vitorianas do século 19. E devemos reconhecer que uma prática que é um perigo simbólico num contexto cultural pode perder importância com o tempo, à medida que o contexto cultural é transformado. Uma flor artificial que representa status de classe em um tempo e lugar pode ser nada mais que uma decoração inofensiva em outro [17].

Se não estabelecermos um conjunto apropriado de tais normais, que seja sensível às mudanças de acordo com as condições, poderemos nos tornar nada mais que uma curiosidade histórica, como os amish.

 

Resoluções sobre vestuário (1866)

 

Em 30 de abril de 1866, a igreja de Battle Creek adotou um conjunto de resoluções sobre vestuário. Os participantes da assembleia da Associação Geral daquele ano apreciaram tanto essas resoluções que votaram adotá-las, fazendo apenas uma pequena alteração no texto do ponto 7 e adicionando um 12º ponto. O texto é o seguinte:

Tendo em vista o presente estado corrupto e corruptor do mundo, e os extremos vergonhosos ao que orgulho e moda estão levando seus adeptos, e o perigo de alguns entre nós, especialmente os jovens, de serem contaminados pela influência e pelo exemplo do mundo à sua volta, nos sentimos constrangidos como igreja a expressar nossos pontos de vista sobre o tema do vestuário nas seguintes resoluções, as quais acreditamos serem verdadeiramente bíblicas. Isso irá recomendar-se ao gosto cristão e julgamento de nossos irmãos e irmãs em qualquer lugar.

 

Resoluções:

 

  • Ponto 1. Cremos, como igreja, que é dever dos nossos membros ser extremamente simples em todas a questões relacionadas ao vestuário.
  • Ponto 2. Consideramos plumas, penas, flores e todos os enfeites supérfluos e somente uma demonstração exterior de um coração vaidoso, e, como tal, não devem ser tolerados em qualquer um de nossos membros.
  • Ponto 3. Joias. Cremos que todas as espécies de ouro, prata, coral, pérola, borracha e joias de cabelo não são apenas elementos totalmente supérfluos, mas estritamente proibidos pelos claros ensinamentos das Escrituras.
  • Ponto 4. Adornos de vestidos. Sustentamos que babados, laços e excessos de fitas, cordões, trança, bordados, botões etc., em aparamento do vestuário são vaidades condenadas pela Bíblia (Isaías 3), e, consequentemente, não devem ser tolerados por “mulheres que professam a piedade”. Por “laços”, entendemos o costume de usar vestidos longos e então ligá-los à saia em intervalos.
  • Ponto 5. Vestidos decotados. Cremos que estes são uma vergonha para a comunidade e um pecado na igreja. E todos os que as usam transgridem de forma vergonhosa o conselho do apóstolo para que “se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso” (1 Timóteo 2:9).
  • Ponto 6. Adornar o cabelo. Cremos que a limpeza e a ornamentação extravagante do cabelo, tão comum nesta época, são condenadas pelo apóstolo (1 Timóteo 2:9). E cremos que os vários frisados e lantejoulas, tal como são usados para conter as deformidades artificiais chamadas “cachoeiras”, “rodas d’água” etc., são as “testeiras” de Isaías 3:18 (margem), que Deus ameaçou tirar no dia da Sua ira.
  • Ponto 7. Defendemos que, em matéria de barbear e tingir a barba, alguns de nossos irmãos mostram uma espécie de vaidade igualmente censurável como o de algumas irmãs em adornar o cabelo. Em todos os casos, eles devem descartar todos os estilos que denotem ar de presunção. Mas, embora não tenhamos objeções ao crescimento da barba em todas as partes do rosto, como a natureza o projetou, cremos que, ao removerem parte da barba, os irmãos erram grandemente na sobriedade cristã em manter bigode ou cavanhaque.
  • Ponto 8. Cremos que não devem ser toleradas as modas exageradas dos dias de hoje, em gorros e chapéus de mulheres; mas que o objetivo principal de se prover um vestuário para a cabeça deve ser cobri-la e protegê-la.
  • Ponto 9. Argolas. Cremos que alguns tipos de “argolas são uma vergonha” (Spiritual Gifts, v. 4, p. 68). Por “argolas”, entendemos qualquer coisa do tipo, pelo qual, por causa do seu próprio tamanho ou natureza do material, a forma de se utilizar se encontra susceptível de ser exposta imodestamente (veja Êxodo 20:26).
  • Ponto 10. Roupas caras. Cremos que Paulo usa a expressão “se ataviem com modéstia” (1 Timóteo 2:9) para condenar a obtenção do material mais caro para o vestuário, seja de homens ou de mulheres, para embora esse vestuário possa ser irrepreensível em outros aspectos.
  • Ponto 11. Novas modas. Cremos que o povo de Deus deve ser tardio para adotar novas modas, de qualquer tipo que possam ser. Se determinada moda não for útil, não devemos adotá-la absolutamente. Se a moda for útil, levemos tempo suficiente para adotá-las depois que forem testadas e o entusiasmo de sua inovação tiver passado. Depois de vermos que ela é pura, modesta e conveniente, devemos ser lentos para fazer mudanças (veja Tito 2:14) [18].
  • Ponto 12. Embora condenemos o orgulho e a vaidade como estabelecidas nas resoluções anteriores, igualmente abominamos tudo que é desleixado, negligente, desarrumado e sem limpeza no vestuário ou nos bons modos [19].

 

Referências:

 

  1. Vários anos atrás, uma universidade adventista norte-americana patrocinou uma série de palestras sobre a influência metodista no adventismo. Cada palestra concentrou-se em algum tema, como saúde ou vestuário, e mostrou que o metodismo teve influência sobre as crenças e o estilo de vida adventista. A pessoa escolhida para falar sobre o vestuário se sentiu tão desconfortável ao encontrar tantos paralelos entre os escritos de Ellen White e os de Wesley que nunca chegou a proferir a palestra.
  2. Veja, por exemplo a reedição do sermão de Wesley, “On dress”, em Review and Herald, 10 de julho de 1855.
  3. Review and Herald, 22 de maio de 1866.
  4. The Light of the Home, p. 3-4.
  5. Ellen G. White, Testemunhos para a igreja, v. 4, p. 636-637.
  6. Veja Arthur White, Ellen G. White: The Aus­tralian Years, 1891-1900 (Washington, DC: Review and Herald, 1983), p. 196-197.
  7. J. C. Fumas, The Americans: A Social History of the United States, 1587-1914 (Nova York: G. P. Putnam’s Sons, 1969), p. 18-19.
  8. A fotografia está impressa em Arthur White, Ellen G. White: The Early Elmshaven Years, 1900-1905 (Washington, DC: Review and Herald, 1981).
  9. “A Female Oracle”, Minneapolis Tribune, 21 de outubro de 1888.
  10. Ellen G. White, Carta 32a, 1891.
  11. Fumas, The Americans, p. 564-569, 757-758; Robert R Roberts, “Popular Culture and Public Taste”, em: The Gilded Age, ed. H. W. Morgan, edição revista e ampliada (Syracuse, New York: Syracuse University Press, 1970), p. 285-286.
  12. Fumas, The Americans, p. 516-517; Roberts, “Popular Culture and Public Taste”, p. 286.
  13. Fumas, The Americans, p. 30, 115-117, 132-137, 183, 184. Veja também Janet Forsyth Fishburn, The Fatherhood of God and the Victorian Family (Filadélfia: Fortress Press, 1981).
  14. Veja Review and Herald, 22 de maio de 1866; Furnas, The Americans, p. 665. A combinação de bigode e cavanhaque foi popularizada por um culto à personalidade centralizada em Napoleão, imperador da França e um importante personagem na política europeia. Os adventistas podem ter reagido à associação do estilo com ele.
  15. Veja, no entanto, o argumento de Thomas Blincoe, em “The Preparation Principle”, Ministry, junho de 1988, p. 6-8. Thomas argumenta que a questão envolvida não é a quantidade de trabalho na limpeza, mas a importância da preparação para o sábado antes de sua chegada.
  16. Ellen G. White, Carta 158, 1902; Carta 263, 1905. Ambas aparecem em Manu­script Releases, v. 1, p. 394-395.
  17. Alguns adventistas talvez se lembrem da discussão sobre flores artificiais que aconteceu durante a década de 1950. Muitos argumentavam que as flores eram aceitáveis (ao contrário da posição do século 19), mas não deveriam ser usadas em reunião campais.
  18. Review and Herald, 8 de maio de 1866.
  19. Item acrescentado pela assembleia da Associação Geral de 1866; publicado em Review and Herald, 22 de maio de 1866.

 

Gerald Wheeler, na época em que escreveu este artigo, era editor-associado de livros na Review and Herald Publishing Association. Atualmente é editor de livros na mesma editora. Ele possui graduação em inglês (Andrews University) e mestrado em biblioteconomia (Universidade de Michigan) e em Antigo Testamento (Andrews University). Wheeler é autor de um livro sobre a história da Igreja Adventista: James White: Innovator and Overcomer (Hagerstown, MD: Review and Herald, 2003).

 

Retirado de Gerald Wheeler, “The historical basis of Adventist standards”, Ministry, outubro de 1989, p. 8-12. Disponível em: https://www.ministrymagazine.org/archive/1989/October/the-historical-basis-of-adventist-standards [Inserir hiperlink]

 

Para estudo mais aprofundado sobre o tema deste artigo, veja: Benjamim McArthur, “Amusing the masses”, em Gary Land, ed., The World of Ellen G. White (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1987), p. 177-191; George R. Knight, Ellen White’s World: A Fascinating Look at the Times in Which She Lived (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1998), p. 130-140.